quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Seleção, Kiera Cass [Opinião]




Título Original: The Selection (The Selection #1)
Autoria: Kiera Cass
Editora: Marcador
N.º Páginas: 292

Sinopse:
Para trinta e cinco raparigas a seleção é a oportunidade de uma vida. É a possibilidade de escaparem de um destino que lhes está traçado desde o nascimento, de se perderem num mundo de vestidos cintilantes e joias de valor inestimável, de viverem num palácio e competirem pelo coração do belo Príncipe Maxon.
No entanto, para America Singer, ser selecionada é um pesadelo Terá de virar as costas ao seu amor secreto por Aspen, que pertence a uma casta abaixo da sua, deixar a sua família para entrar numa competição feroz por uma coroa que não deseja, e viver num palácio constantemente ameaçado pelos ataques violentos dos rebeldes. Mas é então que America conhece o Príncipe Maxon. Pouco a pouco, começa a questionar todos os planos que definiu para si mesma e percebe que a vida com que sempre sonhou pode não ter comparação com o futuro que nunca imaginou.


Opinião:
Num universo distópico onde o nascimento, o casamento e a arte de uma vida ditam a casta onde cada indivíduo pertence — e, consequentemente, o seu nível de riqueza ou pobreza —, quem não sonharia um dia vestir a pele de uma princesa e viver num elegante e soberano palácio, rodeada de jóias e vestidos cintilantes, e sob a atenção do partido mais cobiçado de todo o reino — o Príncipe Maxon? Essa é a oportunidade dada a 35 raparigas — 35 raparigas pertencentes a estados sociais muito diferentes, com backgrounds ora simples ora acostumados ao poder e à beleza, que competirão entre si pelo amor e afabilidade de um príncipe que irá, certamente, mudar as suas vidas.

Com uma premissa tão deliciosamente intrigante, não seria de admirar que a minha experiência com este romance da fantasia fosse algo frenética e vibrante — digamos que A Seleção foi uma daquelas leituras de um só dia, em que o entusiasmo, a curiosidade e a envolvência foi tão grande, tão intensa e inebriante que se tornou absolutamente impossível pausar esta história. Kiera Cass pode ser uma estreante em narrativas young adult, mas a sua escrita suave, airosa e tão, tão aprimorada é como um bálsamo para a alma, como um chocolate quente numa tarde de Inverno em que mais nada importa que não o saborear enérgico de algo que sabemos ser tão, mas tão bom.

Ainda que a camada distópica deste enredo não seja muito acentuada — a sociedade encontra-se organizada por um sistema de castas (muito em semelhança a outras obras do género) que define as possibilidades e vivência de cada um —, quero acreditar que, com o decorrer da acção nos restantes livros da série, esta seja eventualmente explorada com maior afinco. Porém, a parte romântica e competitiva da trama encontram-se belissimamente apresentadas — o romance é gradual e conflituoso, o que gera uma certa cadência sôfrega no leitor, e a competição pelo respeito e sentimentos do príncipe é de se ler e chorar por mais. Gostei particularmente do toque de reality show sem exactamente o ser que A Seleção oferece, o que permite ao leitor sentir-se íntimo e próximo de America Singer, a protagonista desta história, dada a sua narração na primeira pessoa e todos os conflitos emocionais, experiências novas, e surpresas inesperadas por que passa.

Esta figura principal é, também, outro dos elementos que muito me agradou nesta narrativa. America é, possivelmente, a única rapariga em todo o Reino que não quer fazer parte de tamanha celebração política e social — o seu coração já está ocupado pelo amor de Aspen e a vida que leva numa das castas inferiores não é tão má assim. Porém, esta é uma oportunidade a que é forçada a agarrar e o futuro que se abre diante de si não poderia ser mais misterioso e enigmático. A sua personalidade é bastante vincada, o que a tornam numa personagem tanto forte e corajosa quanto frágil e delicada — o que, positivamente, lhe confere uma série de nuances interessantes e encantadoras —, as suas emoções são um turbilhão de sentimentos intensos e, por vezes, contraditórios e as razões que a levem a tomar certas e determinadas decisões são, quase numa constante, do mais nobre possível.

Quanto aos dois intervenientes masculinos desta história, devo dizer que embora a minha preferência inicial tenha recaído em Aspen pelo seu carinho afectuoso e atenção para com America, assim que esta ingressou no palácio — e parte dos acontecimentos que antecederam esse momento — Maxon foi quem conquistou a minha amabilidade enquanto leitora dada toda a pressão política, social e familiar a que se encontra perenemente sujeito. É verdade que a sua pessoa necessita de um pouco mais de entusiasmo, e liberdade, e até mesmo um toque de divertimento e humor, mas a sua natureza enquanto indivíduo é brilhante e altamente atraente.

A título de conclusão, gostaria que Kiera Cass tivesse explorado um pouco mais toda a questão dos rebeldes e do ataque que houve no palácio, assim como a interacção de Maxon com as restantes candidatas — a narrativa encontra-se exclusivamente centrada em America o que, embora seja compreensível visto ser ela a sua essência, limita um pouco toda a questão competitiva e inovadora que o romance promove. Também Celeste foi uma presença que me intrigou bastante e que fiquei com vontade de melhor conhecer, mas pode ser que a sua pessoa errática se encontre figurada em maior quantidade no volume que se segue, The Elite. Quanto a mim, não poderia estar mais surpreendida com as linhas criativas desta história peculiar e única, e tendo gostado sobremaneira, posso afirmar, com todas as certezas, que mal posso esperar por devorar o livro seguinte. Gostei muito.

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