sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Teorema Katherine, John Green [Opinião]



Título Original: An Abundance of Katherines
Autoria: John Green
Editora: ASA — Livros com Sentido
N.º Páginas: 272


Sinopse:


Dezanove foram as vezes que Colin se apaixonou.
Das dezanove vezes a rapariga chamava-se Katherine. Não Katie ou Kat, Kittie ou Cathy, e especialmente não Catherine, mas KATHERINE. E das dezanove vezes, levou com os pés. Desde que tinha idade suficiente para se sentir atraído por uma rapariga, Colin, ex-menino prodígio, talvez génio matemático, talvez não, doido por anagramas, saiu com dezanove Katherines. E todas o deixaram. Então ele decide inventar um teorema que prevê o resultado de qualquer relacionamento amoroso. E evitar, se possível, ter o coração novamente destroçado. Tudo isso no curso de um verão glorioso passado com o seu amigo Hassan a descobrir novos lugares, pessoas estranhas de todas as idades e raparigas especiais que têm a grande vantagem de não se chamarem Katherine.


Opinião:
Uma Katherine.
Duas Katherine.
Três Katherine.
...
O número mágico é dezanove, embora seja no três que se encontra a solução. É em dezanove que a sorte muda, e em dezanove que o terror ‘K’ termina. Foram dezanove as tentativas, e dezanove os erros. Dezanove as possibilidades de romance, e dezanove os estágios de sofrimento e solidão. Dezanove as Katherine, raparigas comum cuja única singularidade, a única partícula de fascínio numa fórmula sem resolução reside, precisamente, na construção do nome... Katherine. Não Catherine. Não Kathy. Mas Katherine.

Existe algo de transcendente no imaginário de John Green. Um qualquer fragmento de excelência, de perspicácia ímpar que vai muito para lá do que outros escritores do mesmo género têm a oferecer. Green é quase como uma força da natureza por si só, com uma intelectualidade fora de série e uma criatividade literária que toca o coração do leitor, que não deixa nada nem ninguém passar indiferente. Green é talentoso. Green é especial — e isso revê-se nas suas histórias que destacam as mais simples e, por vezes, efémeras fragilidades do ser humano sem, por um único instante, cair no ridículo ou no inacreditável. Green é impressionante, e talvez seja por isso, pela sua espontaneidade, pelo seu sarcasmo contagiante, que até as obras que não são tão profundas, que não levantam tanta filosofia, que não emanam tanta emoção, são igualitariamente notáveis. Este seu O Teorema Katherine não é nenhum A Culpa é das Estrelas, mas oh como ainda assim leva ao sonho, e à ambição, e ao companheirismo muito próprio do seu estilo como escritor.

Colin Singleton tem um problema, um problema grave. Com um coração que só se deixa apaixonar por raparigas de nome Katherine, é um absoluto terror quando a décima nona rejeição advém daquela que ele julgava ser a tal, daquela que ele amou como nenhuma outra. Até para Hassan, o seu melhor amigo, está claro que esta não vai ser uma recuperação fácil, e é por isso que decide ‘convidar’ Colin numa aventura que levará os dois aos confins do Tennessee, e que os marcará eternamente, tanto pelas curiosidades que a própria terra de Gutshot tem para oferecer, como pela aventura em si, pela experiência e pelas peculiaridades que ambos viverão.

Gostei bastante deste pequeno, grande romance contemporâneo — como é já habitual de algo vindo das mãos de Green — mas admito não me ter emocionado tanto quanto com outras obras do autor. Talvez tal se deva ao próprio rumo da história, esta mais propícia à narrativa de amor sem final feliz, à obsessão por se encontrar uma solução plausível, matemática até, que leve ao momento Eureka experienciado por todos os génios. Não deixa de ser um livro que toca em elementos de grande emoção, tanto positiva quanto negativa, como o bullying, a traição afectiva, religião ou sentimento de algo que está em falta. Nisso John Green é mestre. Todas as suas obras podem ter um humor característico, uma ligeireza insinuante, mas a quantidade de sentimentos que se encontram retratados, a quantidade de verdades descritas, não há como lhes fugir. John Green é imenso nessa sua particularidade, e é isso que o transforma num dos grandes nomes da actualidade.

Fica a vontade de ler o seu restante trabalho. Depois de ter percorrido A Culpa é das Estrelas — duas vezes! — e À Procura de Alaska, cresce o desejo de folhear os restantes títulos, Cidades de Papel e Will Grayson, Will Grayson, nem que seja pela quase curiosidade mórbida em ver que pequenas pérolas mais tem ele para oferecer. É que é nos pequenos detalhes que John Green brilha realmente, e isso nota-se, neste seu O Teorema Katherine, em pormenores como as notas de rodapé e o capítulo final em que a fórmula matemática de Colin, ou, por outras palavras, o teorema Katherine, é explicado ao leitor comum. Verdadeiramente impressionante.

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.