quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Guia para um final feliz, Matthew Quick [Opinião]




Título Original: The Silver Linings Playbook
Autoria: Matthew Quick
Editora: Editorial Presença
Colecção: Grandes Narrativas, N.º 538
Nº. Páginas: 284
Tradução: António Infante e Miguel Romeira


Sinopse:

Pat Peoples está de regresso ao mundo da normalidade da vida familiar em casa de seus pais após ter permanecido numa instituição psiquiátrica devido a um traumatismo grave. Da memória deste fervoroso adepto dos Eagles de Philadelphia desapareceu uma participação do clube no Super Bowl e a demolição do antigo estádio. Ninguém, lá em casa, lhe fala de Nikki, a sua mulher, e até o seu novo terapeuta parece incitá-lo ao adultério. Tudo assume um aspeto cada vez mais estranho. Como a pouco e pouco se vai revelando, anos da sua vida tinham-se pura e simplesmente apagado. Apesar disso, Pat não se deixa desviar daquela que acredita ser a missão de autoaperfeiçoamento. Guia para Um Final Feliz é uma narrativa vibrante e intensa que nos oferece uma visão refrescante sobre sentimentos de perda, depressão e amor.


Opinião:

Não há sensação melhor do que aquela que cresce dentro de nós, que nos abraça e nos consome quando viramos a última página de um livro que nos preencheu com o mais maravilhoso calor e assombro. Para mim, este não é um final tão comum quanto isso—vários são os romances que me entretém mas poucos, muito poucos, são os que realmente me fazem apaixonar ora pela personagem, ora pelo mundo retratado. Este livro, em particular, deslumbrou-me como nenhum outro, e deixou-me rendida não somente ao autor, como à própria personalidade retorcida de Tiffany, e ao idealismo que Pat pretende alcançar. Absolutamente, impressionante.

Guia para um final feliz não se trata de uma obra convencional. O tema que aborda—a disfunção e obsessão mental—é algo que, provavelmente, não agradará a todos os leitores, mas o que vos posso garantir, e isso sim, é que este texto irá surpreender, e aprisionar, e maravilhar, qualquer pessoa que o leia—seja um interessado pelo tema, um mero curioso, ou até mesmo alguém que embarque nesta viagem com umas quantas dúvidas quanto ao que irá encontrar.
Matthew Quick conseguiu, com este que foi o seu trabalho de estreia como escritor, alcançar um patamar de excelência e singularidade inadvertidamente invejável. O modo como destila, no papel, os sentimentos e pensamentos de Pat, numa sequência que nos soará tanto natural quanto comum, é simplesmente admirável no sentido em que, assim que o leitor se deixa entranhar no psicológico danificado da personagem, não mais de lá quer sair. Surge então uma ligação, um deslumbramento tão único, e tão especial, que rapidamente aparece a certeza de que, em mãos, possuímos uma história original, peculiar e, sem sombra de dúvidas, de grande mérito.

Quando se ama uma pessoa do fundo do coração, com todo o nosso ser, é muito difícil aceitar que essa mesma pessoa nunca mais estará ao nosso lado, nunca mais partilhará o que de melhor—e, por vezes, de pior—a vida nos proporciona, e, principalmente, nunca mais nos amará com igual intensidade a que a amamos a ela. É esse sentimento de vazio e, ao mesmo tempo, de esperança face o desconhecido que Pat encontra ao sair do sítio ruim, onde esteve internado por mais anos do que aqueles que se lembra ou tem noção de. Daí rebenta uma necessidade extrema de se aperfeiçoar, de se tornar no melhor homem que pode ser, tanto a nível físico como psicológico, submetendo-se, então, a toda uma série de situações às quais, antes, nem teria dispensado um segundo pensamento, uma segunda reflexão. E assim entra também a genialidade criativa de Quick, ao retratar, com primazia, as perturbações mentais e dificuldades que Pat encontra pelo caminho, e todas as dificuldades que por vezes tendem a deitá-lo abaixo. Penso que, de uma forma muito própria e especialmente bela, Quick conseguiu reproduzir, através de uma personagem disfuncional, um pouco do que se passa na vida do ser humano, desde as alegrias e desilusões que preenchem os seus dias, às manias, atribulações e, por vezes, descriminações que, se formos sinceros, sabemos que nos são inerentes—ao fim e ao cabo, fazem parte de nós. O bom, e o mau.

Pat torna-se, desse modo, numa figura essencial ao romance. Sendo o seu intelecto aquele que chega directamente até nós, leitores, é verdadeiramente interessante analisar e percepcionar os vários momentos e ocasiões que o perturbam, assim como aqueles que o fascinam e deixam feliz. Vaguear pela sua forma de pensar e modo de ver as coisas, e as pessoas, é absolutamente cativante, e, claramente, um dos grandes trunfos desta narrativa.
Tiffany é, também ela, uma figura de peso, dado sofrer, em igual medida, de uma patologia psicológica que marca, vincadamente, a sua personalidade. Irreverente, sabedora e muito, muito impulsiva, esta é uma personagem que fará as delicias de muitos leitores, principalmente por estar no centro de alguns dos melhores momentos de drama e de comédia, presentes neste livro. Mas é a sua relação gradual com Pat que a eleva a um estatuto de soberania, assim como a força de vontade com que abraça os seus sentimentos e os tenta enviar para aquele que, com o tempo, aprende a aceitar, a compreender e, mais importante ainda, a amar.

Embora Guia para um final feliz aborde, com reverência, uma certa actividade desportiva imensamente apreciada nos Estados Unidos da América, algo que, para um leitor português, certamente não terá grande interesse, é impressionante como até assim este desporto se encontra eximiamente interposto no romance, sendo fruto de irmandade e companheirismo, e permitindo ao leitor apreciar verdadeiros ensejos de amizade—confesso que até esta componente me deixou fixa à história.
Quanto a mim, penso não ser necessário expressar, preto no branco, o quanto gostei deste livro. Trata-se, realmente, de um texto diferente com vários instantes de brilhantismo, por parte de um escritor que já se tornou essencial na minha estante.
Uma obra que deveria de ser lida por todos os leitores apreciadores de um bom romance com o seu quê de especial, de significativo, esta que é uma genial aposta Editorial Presença, que me encantou sobremaneira. Fica mais do que recomendada.


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