terça-feira, 25 de junho de 2013

Segredos para um final feliz, Lucy Dillon [Opinião]




Título Original: The secret of happy ever after
Autoria: Lucy Dillon
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 464
Tradução: Cláudia Ramos


Sinopse:

Quando Michelle convida Anna para gerir e fazer renascer a moribunda livraria de Longhampton, é como se um sonho se tornasse realidade: para além de conquistar, finalmente, alguns momentos de paz longe das enteadas problemáticas e do dálmata hiperativo, Anna é uma sonhadora completamente apaixonada por livros.
Serão as histórias de amor, aventuras, jardins secretos, cães perdidos, bruxas malvadas e pêssegos gigantes a trazer nova vida à negligenciada loja. Anna e os seus clientes/leitores vão deixar-se levar pela magia. E nem a melhor amiga de Anna – a organizada e empreendedora Michelle, que diz categoricamente não acreditar no amor verdadeiro nem em príncipes encantados – ficará imune ao espirito love is in the air.
Mas quando alguns segredos da infância de Michelle voltam para a atormentar e o fracasso familiar paira sobre Anna, poderá a sabedoria das histórias de encantar ajudar as duas amigas – e aqueles que elas amam – a encontrar os seus próprios finais felizes?


Opinião:

Gosto de um bom livro aconchegante. De uma história que se destaque pela beleza da escrita e pelas imensas voltas e reviravoltas do enredo, mas que, no final, me deixe com um sorriso perpétuo nos lábios. Acima de tudo, gosto de percorrer vivências incompletas que buscam, fervorosamente, aquele pedacinho de felicidade, de aceitação, de conforto que, demasiadas vezes, vemos escapar-nos das mãos. Este livro é assim... purificante, enternecedor, um autêntico bálsamo para a alma.

Segredos para um final feliz é, definitivamente, um romance de pormenores, de vidas que, embora não perfeitas, nunca perfeitas, são comuns, e, por isso, deixam uma marca, uma réstia de esperança, um consolo para todos aqueles que desistem ao primeiro obstáculo, que se resignam com um «não» e que, muitas vezes, se renunciam de procurar o que os faz feliz.
Lucy Dillon foi uma estreia profundamente avassaladora. A sua escrita é pontuada por uma beleza e ritmo incríveis, sustentando-se ora na essência dos problemas que as suas protagonistas vivem e encontram, ora na complexidade que o próprio futuro, e também o presente, acarreta. As suas descrições são de se louvar aos céus e a magnitude que confere a cada personagem, aperfeiçoando os detalhes, esculpindo as várias facetas, é absolutamente cativante.

O começo de cada capítulo, em Segredos para um final feliz, é como um novo despertar literário para todas aquelas narrativas que outrora conhecemos, e todas aquelas figuras que, com certeza, viremos a descobrir mais para a frente, numa compilação de pequenos cartões, pequenas recordações e pedaços de memórias, sugestões, não só dos próprios intervenientes ficcionais do enredo em si, como, e atrevo-me a dizer, do gosto pessoal da autora—algo que acho magnífico. Mas uma verdadeira história de encantar, para leitores experientes, tem obrigatoriamente de possuir um leque interessante de personagens, e este romance, sem dúvida, transborda excelência também nesse aspecto.
Anna e Michelle captaram por completo a minha atenção. Os constantes dilemas que a primeira enfrenta, e o seu forte desejo de ser mãe, assim como o passado turbulento que a segunda se esforça por esconder por detrás de uma personalidade mais rígida e controladora, são situações, pessoas, que facilmente poderiam existir no meu círculo de amigos. Presenciar o desenvolvimento e desabrochar de ambas, através das suas paixões e medos, foi indiscutivelmente mágico, e ainda sentir a companhia de outras presenças singulares como Pongo e Tavish—adorei a abordagem canina da autora—, as irmãs Lily, Chloe e Becca—de feitios tão distintos—ou até o próprio Owen, Rory ou Evelyn, foi como a cereja no topo de um bolo já incrivelmente apetitoso.

Um livro especial, construído de afectos, é como vejo Segredos para um final feliz. Não estou certa de que contenha, por entre as suas muitas páginas, e pelo menos não abertamente, a fórmula secreta para o eterno happy ending que todos nós buscamos, mas acredito, e isso sim, que, com as várias mensagens que transmite e os diversos ensinamentos que oferece, indica o princípio absolutamente necessário, a abertura imprescindível, para a sobrevivência a uma vida que, nem sempre, é justa ou fácil. Mas, estar-se vivo é isso mesmo, é chorar com os amigos, sorrir com a família, descontrair com aquilo de que mais gostamos e, claro, reconciliarmo-nos com a ajuda ao outro que, muitas vezes, demasiadas vezes, fica esquecida.

Gostei particularmente das existências paralelas ao enredo principal que a autora, Dillon, tão sabiamente vai reproduzindo um pouco ao longo de toda a história. A Butterfields, por exemplo, e tudo o que ela significa enquanto instituição, marcou-me sobremaneira. É deveras poderoso assistir, ainda que superficialmente, à solidão insistente sentida em idade mais avançada, quando a nossa mente e o nosso corpo já não funcionam em uníssono, e quando a responsabilidade que antes sabíamos ter por nós mesmos deixou, simplesmente de existir. Enterneceu-me a percepção que Michelle acabou por retirar deste casulo exteriormente belíssimo, e o modo como essa destreza de pensamento, com o tempo, se foi materializando numa mudança (gradual) de atitude e confiança, que, por sua vez, culminou numa renovada, e mais aberta, personalidade errante. Mas também Anna aprendeu com as pessoas à sua volta, com as gravidezes constantes, com os comportamentos indisciplinados e com as incontáveis sensações desconfortáveis por se «estar a mais» ou «se ser dispensável»—e isso faz-me pensar: não foi bonita a forma como cada peça, no final, acabou por encaixar no seu devido lugar?

Porém, de entre um livro tão mágico e prestigioso quanto este, arrepiante na veracidade com que aborda uma série de temáticas—como a reacção quase humana de um animal face a morte do seu dono, ou a impossibilidade, não física mas familiar, social, de ver realizado o sonho de se ser mãe, ou ainda, a angustia da solidão, o desespero da incompreensão alheia e a surpresa de uma nova vida—seria de esperar que lhe atribuísse nota máxima, mas, inacreditavelmente, tal não me é possível fazer pois, para mim, este é, de facto, um livro extremamente interessante e diferente, romântico, mas com a falha de, por vezes, se tornar demasiado «grande», demasiado extenso. Não é que os seus acontecimentos não estejam bem narrados ou se encontrem exprimidos ao máximo, não, mas, mais do que uma vez, deparei comigo mesma, principalmente a caminho do final—que foi esplêndido!—com o pensamento: mas o que será que mais poderá acontecer? Que mais há a contar?

Ainda assim, esta foi uma leitura que, de certo modo, me encheu as medidas e que me deixou curiosa com o outro título da autora publicado por cá, também aposta da Porto Editora, Corações sem Dono. Não se trata de um romance perfeito, mas é, e isso sem dúvida, um dos que mais gostei dentro do seu género—especial destaque para a capa, que é adorável!. Dillon tem um toque muito especial, único, para contar histórias, e isso nota-se em cada uma das suas páginas. Muito bom.


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