sábado, 15 de junho de 2013

Anna e o Beijo Francês, Stephanie Perkins [Opinião]




Título Original: Anna and the French Kiss
Autoria: Stephanie Perkins
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 283
Tradução: Filipa Aguiar


Sinopse:

Anna Oliphant tem grandes planos para o seu último ano em Atlanta: sair com a melhor amiga, Bridgette, e namoriscar com um colega no cinema onde trabalha. Por conseguinte, não fica muito contente quando o pai a envia para um colégio interno em Paris. As coisas começam a melhorar quando ela conhece Étienne St. Clair, um rapaz deslumbrante - que tem namorada. Ele e Anna tornam-se grandes amigos e as coisas ficam infinitamente mais complicadas. Irá Anna conseguir um beijo francês? Ou algumas coisas não estão destinadas a acontecer?


Opinião:

Existem livros que, talvez pelo momento em que lhes pegamos ou pela história que nos contam, simplesmente nos marcam. Confesso que, ultimamente, tenho tido uma sorte extraordinária nas leituras que escolho—de uma forma ou de outra, estas têm sido todas especiais, únicas, e sem dúvida tocantes. Quanto a este romance em particular, de uma autora que há muito aspirava descobrir, somente posso tentar expressar o quanto o seu enredo simples mas profundo me deixou, irrevogavelmente, rendida. Seja por uma Paris de beleza absoluta, por um estrangeiro que não se enquadra em nenhuma das suas nacionalidades ou vivências, ou, puramente, por um amor que se vê desejado num dos pontos mais famosos da Cidade Luz, seja por que for, pelo que for, esta foi—é—uma narrativa que já encontrou um lugar muito especial neste meu coração de leitora, e que por ainda mais tempo lá permanecerá.

Anna e o Beijo Francês é como o apertar inesperado da saudade por algo que foi deixado para trás, e o medo irrepreensível do desconhecido que se apresenta à nossa frente, repleto de mil e uma possibilidades diferentes—tudo isto, acompanhado pela mais requintada pâtisserie do mundo. E embora numa vertente mais YA—jovem adulta—, este livro é um autêntico mimo, que aquece o peito por dentro, nestas noites por vezes demasiado frias, e deixa o coração apertadinho face as inevitabilidades de algo tão natural como o amor.
Stephanie Perkins foi uma surpresa por demais maravilhosa. A sua escrita simples e algo poética conjuga, na perfeição, com a beleza inerente da própria Cidade do Amor, neste romance retratada com esmero e curiosidade. Os seus diálogos jovens e inteligentes dão, muitas vezes, origem a toda uma série interminável de momentos imensamente divertidos e invulgares, mas são as suas descrições dos dissabores sentidos, dos desejos pulsantes e, até, dos lugares vividos que verdadeiramente captaram a minha atenção, enquanto leitora. A verdade é que, mesmo ainda a suspirar por esta história, mal posso esperar por visitar, por experimentar, a Paris pintada pelos olhos de Anna.

Anna Oliphant é uma jovem de dezassete anos como qualquer outra, o problema é que foi esquecida numa realidade diferente, abandonada num continente desconhecido, num país culturalmente insondado e numa das mais belas e românticas cidades do mundo. Os seus medos encontram-se presentes à flor da pele, prontos a alastrarem-se por todo o seu corpo, e os seus receios de não se conseguir integrar, os temores de ter de enfrentar tamanha mudança sozinha, longe dos seus amigos, longe da sua família, longe de tudo o que alguma vez conheceu, não são nada quando comparados com as portas que, posteriormente, lhe serão abertas—a da independência e a do amor. Mas, também a amizade é um sentimento, uma união que decide interferir no seu destino, e, ao bater-lhe à porta nessa inconfortável primeira noite, deixa somente uma mensagem: a de que nada voltará, alguma vez, a ser o mesmo. E não mais o foi.

Étienne St. Clair será o beijo francês—ou deverei dizer americano? Inglês?—que Anna não será capaz, nunca, de esquecer ou parar de desejar, de sonhar com. E a revolução que este singelo mas apaixonante rapaz provoca no seu espírito, no seu intimo, é tão especial e carinhosa, tão bonita, que é um completo prazer assistir ao desenrolar gradual e profundo de uma amizade inteiramente avassaladora. É que St. Clair—Étienne—é uma personagem absolutamente transcendente, que sabe o que dizer ou fazer nos momentos certos, que sabe como agir, como proceder, como acompanhar uma Anna que, inexplicavelmente, lhe toca no coração. Dono de uma inteligência, sabedoria e dedicação incríveis, St. Clair chegará, sem dúvida, a muitas leitoras mas será o seu lado mais vulnerável, mais sentimental, o que o tornará no perfect book boyfriend de muitas delas.

Como não só de personagens principais se faz um bom romance, também figuras mais secundárias desempenham aqui um papel de extrema importância, nas visões de um grupo de adolescentes brilhantes e tão, tão invulgares que rapidamente se tornam distintos. Mer é maravilhosa pela personalidade vibrante e genuína que apresenta. Amiga do seu amigo, e secretamente apaixonada por St. Clair, a sua bênção e estima serão de um valor incalculável para Anna que, também secretamente, assistirá a uma possível ruptura com aquela que demonstrou mais simpatia para consigo. Rashmi e Josh são o casal imperfeito que cativa qualquer um, Rashmi pela irreverência do seu intelecto e língua um pouco mais afiada, e Josh pelo talento inerente que possui nas suas mãos, e que transparece na sua arte. Por fim, Ellie, que mesmo não tendo uma presença muito activa, ainda assim não consegue exercer influência negativa o suficiente para criar o ódio que seria esperado tendo em conta os desenvolvimentos assistidos ao longo do enredo. Ambígua mas com o um certo je ne sais quoi, é interveniente que deixa uma dada ambiência no ar e que, ainda fisicamente ausente, marcará, com sagacidade, a história de Anna e St. Clair—Étienne!

O cenário parisiense encaixa, na perfeição, neste romance. As suas estreias, os cinemas ao virar da esquina, as inúmeras iguarias gastronómicas, os monumentos históricos que embalam a cidade... tudo é perfeito, e tudo é mágico. Perkins captou a essência de Paris com uma graciosidade e elegância incríveis, ao ponto de, por diversas vezes, sentir que a própria cidade era como uma personagem activa no decorrer da trama.
Também as temáticas abordadas foram alvo de pequenos apertos no coração. O sofrimento de se ser forçado a permanecer distante de um parente querido que sofre de uma doença (que pode se tornar) fatal; o pânico entorpecido de nos encontrarmos sozinhos numa cidade desconhecida, longe de tudo o que amamos; o desespero de nutrir sentimentos que vão, em muito, para lá da amizade por alguém que não pode ser nosso; a alegria e o conforto que o apoio genuíno entre amigos, verdadeiros amigos, pode criar, transformando-nos em pessoas invencíveis; e, claro, os conflitos familiares que muitas vezes nos cortam as asas e nos impedem de voar, de ser livres. Embora com uma leveza incrível, Anna e o Beijo Francês possui uma profundidade sublime, extraordinária, que acredito poder somente ser encontrada quando lida por entre as linhas, quando compreendida não na mente mas no coração, nos sentimentos, nas emoções.

Quanto a mim, é-me praticamente impossível, após terminar esta leitura, não desejar, ardentemente, conhecer a França de Anna. Mesmo com uma extrema influência americana, mesmo com um sotaque—por vezes até cerrado—inglês, mesmo com um francês absolutamente redundante e quase inexistente. Mas sem dúvida de que se trata de uma França especial, de uma Paris única, deslumbrante, e cheia de oportunidades. Contudo, também a paixão de Anna pela arte cinematográfica me enterneceu, pois, em tantas ocasiões, em muitas mais do que aquelas que alguma vez poderia referir, vi-me a mim mesma na pele de Anna, no intelecto de Anna, nos desejos de Anna. Foi bom, ainda que breve, encontrar uma alma—embora literária—com um amor e uma compreensão tão espectacularmente semelhantes ao que eu mesma sinto pelo cinema.
Adorei a beleza idílica deste romance e de todas as suas nuances de amor e amizade, de desgosto e de sorrisos, de medos e de obstáculos, de cultura e de beijos roubados mas, acima de tudo, de enganos, de erros e de medos, mas também de alegrias e paixões imprevisíveis. Espero um dia experienciar a França—a Paris!—de Anna. Quem sabe, num futuro próximo?

Uma aposta deliciosa por parte da Quinta Essência, que cativa agora os leitores mais jovens com romances de enternecer o coração, mas sempre sem descurar todos os outros que poderão encontrar aqui, também, uma fonte de prazer literário.

1 comentário:

Fabiana Correa disse...

Olá, tudo bem??
Adorei sua resenha de Anna e o Beijo Francês! Também li esse livro e resenhei no meu blog. Não tem como amar esse livro, né?
Vc já meu o sequência "O Garoto da Casa ao Lado"?É muito lindo também!
Bjus
Fabi
Um romance, um sonho...
(www.romancesdecoracao.blogspot.com)

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