quarta-feira, 9 de maio de 2012

Jesus Ama-me, David Safier [Opinião]



Título Original: Jesus Liebt Mich
Autoria: David Safier
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 286
Tradução: Artur Costa e Emília Ferreira


Sinopse:

Marie, uma trintona que vive numa pequena aldeia alemã, tem um especial talento para se apaixonar pelos homens errados. Pouco depois de deixar o noivo plantado no altar, conhece Joshua, um carpinteiro estranho, fora do comum. Joshua é um homem diferente de todos os que conheceu antes: sensível, atencioso, desinteressado. Mas, infelizmente, também não é o homem perfeito: no primeiro encontro confessa que é Jesus.
A princípio, Marie pensa que ele está completamente louco, mas aos poucos vai-se dando conta de que a sua história bate certo. Apaixonou-se pelo Messias, que veio à Terra antes do Juízo Final. Marie deverá enfrentar não apenas o fim do mundo, previsto para a terça-feira seguinte, mas também o romance mais destrambelhado de todos os que já viveu.


Opinião:

Existem sentimentos difíceis de confessar.
Momentos tão únicos e especiais que se tornam complicados de partilhar, e emoções tão puras e genuínas que, oh, malditas emoções!, se mostram impossíveis de serem expressas em palavras. Mas no meio da névoa do improvável e da inocência, encontram-se verdadeiras pérolas de sabedoria, de amor e de compaixão. E são esses instantes insubstituíveis no tempo que permitem, a uma vida construída à base de desencontros e paixões furtadas, alcançar o tipo de clareza e felicidade que, muitas vezes, parece escapar por entre os dedos.

Jesus Ama-me revelou-se uma leitura extremamente interessante, sôfrega e divertida. Implementando a vontade do Todo o Poderoso, o autor soube como passar as várias mensagens e ensinamentos subliminares que se encontram espalhadas um pouco por toda a trama sem, contudo, deixar de apelar à curiosidade do leitor.
Pontuando, numa constante, a narrativa com um tom calmo, solto e bem humorado, David Safier, superando-se perante um Maldito Karma hilariante, volta a fazer as delicias dos mais aventurados ao alcançar um feito, para mim, surpreendente tendo em conta o estilo que acompanha a leitura: a dádiva de conjugar, de forma impecável, boa disposição com religião católica e os primórdios do mundo cristão, acentuando ainda assim todas aquelas questões que, por vezes, nos assomem à mente com um toque muito especial de ironia e súbita destreza.

Ocasionalmente, nem mesmo a alegria de um suposto amor é o suficiente para que se queira estar junto, com «aquela pessoa», para todo o sempre. Aliás, muitas vezes o que acontece é esse sentimento que julgamos nutrir por determinado individuo ser, efectivamente, transformado numa mentira bem omitida e, por conseguinte, num profundo desejo de fuga. Mas, em todos os problemas surge uma oportunidade de escape, não é garantido é que seja a mais acertada... e isso é algo que Marie irá sentir – e descobrir – na própria pele.
Solteira recente, esta é uma personagem dotada de uma ternura e encanto extremos e que, talvez por se ver perseguida por todo o tipo de sarilhos e azares, acaba por se tornar uma lufada de ar fresco dada a sua descontracção e hilaridade num romance que tem todos os elementos para se denominar de um estrondoso sucesso.

Quando os céus brandam os seus desígnios, enquanto filho de Deus, Joshua tem de seguir as passadas que lhe foram tecidas. Combater o mal, purificar a humanidade e oferecer novos caminhos àqueles que o merecem, é o seu futuro. No entanto, e ainda mais irreal do que se auto-proclamar Jesus, é existir uma brecha que, de tão ligeira, acaba por ser profunda: uma mulher capaz de trespassar com estacas afiadas cada objectivo traçado, reconquistando – para si – a atenção de um homem que aprendeu a amar, e impedindo-o de concluir a sua demanda final.
Mas com tanta tentação no ar, conseguirão os impuros escapar à batalha apocalíptica que promete rasgar o céu? Ou será Jesus destemido e crédulo ao ponto de afastar a única humana, para além de Maria Madalena, que ousou roubar o seu coração?

Como protagonistas, Joshua e Marie formam o casal perfeito na medida em que, ao serem tão dispares um do outro, acabam por se completar mutuamente. Ela personificando o pecado e o desejo, e ele idealizando a sabedoria e o perdão, juntos formam uma dupla imbatível que, sem mesmo se darem conta disso, caminham a passadas largas em direcção ao fim do mundo.
Quanto às personagens secundárias, muitas são as que suscitam risada e tantas outras as que invadem a ambiência calma e desproporcional que caracteriza este romance. Tanto Clooney como Thompson são intervenientes que, embora sem grande destaque, implementam as bases cruciais que levarão ao desenrolar de todos os acontecimentos. Enquanto que Kata e Gabriel, por exemplo, imperam a lealdade e o companheirismo sem os quais a salvação será impossível.

A par disso, estão presentes variadíssimos valores morais e sociais que, por vezes, passam despercebidos ao mais comum dos seres ou, ainda, simplesmente são tomados como certos. A importância do apoio familiar, da aceitação imparcial, do perdão para com o outro e do amor incondicional são, somente, alguns dos factores estritamente humanos que se podem ver camuflados nas entrelinhas... ou retratados nos mais incrivelmente enternecedores desenhos.
Penso que, em última análise, o que de melhor se pode retirar desta leitura é a indicação de que, sempre que possível, devemos ser altruístas e ser capazes de entregar – a outro ou ao mundo – algo ou alguém que amamos do coração mas que, sem o qual, mais ninguém conseguirá ser feliz. O que se traduz, sem dúvida, numa bonita lição de vida transmitida na mais pura e descontraída das formas.

Um romance leve e que se lê rapidamente, Jesus Ama-me trata-se da contínua aposta, por parte da Planeta Manuscrito, num autor magnificamente divertido, subtil e excelente companheiro para os finais de tarde que se avizinham quentes e confortáveis. Uma leitura fluida e provocadora, que não deixará nenhum leitor indiferente. Decididamente, um autêntico íman ao riso!

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