quinta-feira, 29 de março de 2012

À Procura de Alaska, John Green [Opinião]



Título Original: Looking for Alaska
Autoria: John Green
Editora: ASA
Nº. Páginas: 247
Tradução: Ana Beatriz Manso


Sinopse:

«Na escuridão atrás de mim, ela cheirava a suor, luz do sol e baunilha, e, nessa noite de pouco luar, eu pouco mais podia ver além da sua silhueta. Mas, mesmo no escuro, consegui ver-lhe os olhos – esmeraldas intensas. Era linda!»
Alaska Young. Lindíssima, inteligente, divertida, sensual, transtornada... e completamente fascinante. Miles Halter não podia estar mais apaixonado. Mas, quando a tragédia lhe bate à porta, Miles descobre o valor e a dor de viver e amar incondicionalmente.
Nada mais será o mesmo.


Opinião:

Quando o coração bate mais forte, há todo um novo e misterioso destino a cumprir. Pessoas que se conhecem, amizades que se afirmam, relações que amadurecem, laços que são quebrados, amores que são testados e muitas, muitas experiências que sofrem a primeira linha de contacto. Mas nem todos esses momentos etéreos, que nos transcendem, numa constante, para um outro plano da vida, são pontuados pela folia da alegria. Muitas vezes, esses pequenos pormenores que nos escaparam inconscientemente, transformam-se em recordações eternizadas quando a desgraça, o desalento e a dor nos batem à porta e, sem pedir licença, nos invadem por dentro.

À Procura de Alaska é, certamente, uma das leituras mais emocionais e verdadeiramente apaixonantes que tive o prazer de folhear este ano – e desde há muito tempo, também. Não existem palavras fortes e duras o suficiente para descrever a magnificência, o deslumbramento e o profundo realismo que este aparentemente simples enredo provocará no leitor, ao longo das suas páginas. A história é poderosa, as personagens dotadas de uma fieldade impressionante e os vários contornos que a própria trama sofre no seu desenvolvimento são de uma intensidade fora do comum. John Green conseguiu, juntando pequenas e soltas peças de um intricado jogo de emoções, formar um puzzle que não só provocará o leitor com as suas tropelias e descobertas, como o deixará estarrecido face a energia e sentimento puro que alberga e, invariavelmente, transmite por toda a sua leitura.

Cada uma a seu nível, todas as personagens que provocam, nesta narrativa, situações de divertimento sufocante e sofrimento devastador são importantes e marcantes para o leitor. Umas destacam-se pela responsabilidade dos eventos desencadeados, outras pela forma como conduzem o leitor ao cerne da questão mas, no seu conjunto, todas elas formam uma união singular e indubitavelmente real e próxima para quem as lê. Assim, enquanto Miles dirige o caminho a seguir, apaixonando-se pela pessoa mais inconstante e intelectualmente atraente que poderia encontrar, Alaska deixa-se levar pelas inconstâncias e perguntas sem resposta que constituem o linear da vida, acabando por se deixar levar precisamente por uma delas. Em contraste, temos um Chip “Coronel” que, mesmo com todos os seus defeitos, é capaz de uma amizade fora de série e um Dr. Hyde – para mim, uma personagem deveras especial – que, com toda a sabedoria que a sua velha idade possui, transmite os mais poderosos ensinamentos. A verdade é que adorei a interacção entre os vários intervenientes, e a forma magnífica como cada um deles complementa o outro. Um leque extraordinário e memorável de personalidades, primado pela distinção entre cada uma delas, que conduzem o leitor a uma leitura sôfrega e emocionante.

A própria estrutura do enredo foi uma surpresa. Sem capítulos significativos mas divido em quantidade de dias antes e depois da ocorrência que arrebatará as personagens principais desta história, sem dúvida de que se tratou de uma forma curiosa de descobrir o desenrolar dos acontecimentos. Talvez por isso, me tenha sido tão complicado parar de ler... ou talvez tal se deva ao estrondoso estilo de John Green que, numa linguagem incrivelmente acessível e eficiente, faz as delicias tanto de um público mais jovem que encontra aqui algumas realidades do seu passado – ou que vê à sua volta –, como de um leitor adulto que, incondicionalmente, não conseguirá resistir a uma narrativa tão comovente quanto inteligente – as várias passagens das últimas palavras que uma série de indivíduos proferiu às portas da morte, assim como o discurso de Dr. Hyde são impressionantes nesse sentido.

Ainda antes de terminar, tenho de dizer que este livro não agradará somente pela belas palavras que o preenchem, ou pelas personagens que lhe dão vida, nem mesmo pela história que o impulsiona... este livro agradará também pelos temas morais, íntimos e sociais que aborda. Desde a incógnita que caracteriza a morte, ao sofrimento de não se saber como um dado acontecimento de extrema importância ocorreu, passando pela perda de um amor e de uma fiel amiga, às tropelias rebeldes de um grupo de adolescente e até ao forte laço de amizade incondicional que mostra. Como estas mencionadas, muitas outras temáticas interessantes e actuais embalam este livro numa melodia que se faz sentir a cada palavra, cada frase, cada página.

Esta será uma obra que o acompanhará por muito tempo, que o levará a desejar devorar novamente e que quererá aconselhar aos seus amigos, familiares e, quem sabe, conhecidos. Uma história extraordinária sobre algo perfeitamente comum mas que, às vezes, se revela difícil de encontrar, perceber, aceitar. Uma narrativa sobre pessoas, sobre sentimentos, sobre como uma vida inteira pode mudar na fracção de um único segundo. Sem dúvida, um livro que guardarei com fervor e que, infelizmente, à primeira vista passa totalmente despercebido.
Uma excelente aposta da ASA, como tem sido hábito, que uma vez mais apresenta, na forma de ficção, toda uma série de «relatos» e acontecimentos passíveis de acontecer. Recomendo vivamente.


«As últimas palavras do pregador oitocentista Henry Ward Beeche foram: “Agora vem aí o mistério.” O poeta Dylan Thomas, que gostava tanto de uma bebida como Alaska, pelo menos disse, antes de morrer: “Bebi dezoito uísques de seguida. Creio que é um recorde.” O favorito de Alaska era o dramaturgo Eugene O’Neill: “Nascido num quarto de hotel e – que diabo – falecido num quarto de hotel.” Até as vítimas de acidentes de viação tinham, por vezes, tempo para últimas palavras. A princesa Diana disse: “Oh, meu Deus. O que é que aconteceu?” A estrela de cinema James Dean disse: “Eles estão a ver-nos, de certeza”, antes de embater com o seu Porsche num outro carro. Conheço tantas últimas palavras. Mas nunca saberei quais foram as dela.», - pág. 161

2 comentários:

p7 disse...

Comprei este livro há pouco... *suspiro* Fiquei mesmo com vontade de lhe pegar ao ler a tua opinião. ;)

Pedacinho Literário disse...

O livro é maravilhoso, p7, se uma força extraordinária. Espero que gostes! Eu cá adorei. :D

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